sábado, 28 de abril de 2007

Arquivo - Manuel Murteira



“Mercado das antiguidades não teve quebras significativas”

A propósito da Feira de Antiguidades e Obras de Arte que decorre desde o passado sábado e até ao próximo domingo (11), no Centro de Congressos de Lisboa o NM foi até á zona historica da capital, numa rua onde existem vários antiquários, oa encontro de Manuel Murteira. O ex-presidente da Associação Portuguesa de Antiquários (APA) falou de um mercado que apesar de tudo parece não ser afectado pela crise.

Como é que esta o mercado das antiguidades em Portugal?
A crise económica existe, porém houve uma mudança no mercado, isto é, deixaram de se vender as coisas menos boas e começaram-se a vender melhor as peças mais importantes.Vendem-se menos peças, mas de melhor qualidade.

Que tipo de pessoas compra antiguidades?
Não há bem uma classe ou um tipo determinante, são os investidores em arte, as pessoas que quando a bolsa esteve pior encontraram aqui um investimento alternativo, coleccionadores. É um leque variado de pessoas.

Qual o tipo de antiguidades com mais procura?
Acho que se vende de tudo, a pintura nos últimos anos tem atingido preços muito elevados, mas também as pratas boas, o mobiliário, as porcelanas a faiança, praticamente tudo, eu acho que não há muito um tipo de peças mais vendidas, mas sim uma procura pela qualidade.

As pessoas compram mais como forma de investimento ou por gosto/colecção?
Há os dois tipos de compradores.

Vende-se mais peças nacionais ou estrangeiras?
O mercado não é muito estanque, nem pode ser, não faz sentido nenhum, vendem-se tanto peças estrangeiras como nacionais. Hoje em dia não há mercados locais, há um mercado maior, eu não diria global, pois neste caso não se aplica, mas um mercado muito abrangente.

A que mercados Portugal se vai “abastecer” de antiguidades?
Trabalhamos prioritariamente com o mercado interno, depois claro que há comércio com França, Inglaterra, eventualmente com a Itália embora em menor grau e também algumas transacções com Espanha.

As pessoas vêm as lojas ou esperam mais pelas feiras e leilões para comprarem?
Isso depende um bocado da situação geográfica das lojas, nós aqui (eu e os meus colegas) estamos num sítio privilegiado entre a Sé e o Castelo de S. Jorge, é um sítio muitíssimo central é fácil para os comerciantes estrangeiros cá chegarem.

E os turistas que passam por aqui, compram algumas peças?
Os turistas, no sentido lato da palavra, procuram outro tipo de coisa, aqui o que há são estrangeiros que visitam a zona histórica e têm alguma apetência pelas artes, visto que aqui perto também há a Fundação Ricardo Espírito Santo, o Castelo, o Tesouro da Sé, e acabam por visitar as lojas.

Como começou o gosto pelo mundo das antiguidades?
Acho que foi como a maior parte dos meus colegas, começa-se por coleccionar e acaba-se a vender.

De coleccionador a dono de uma loja e presidente da APA. Qual foi o percurso?
Comecei a comprar algumas peças quando vivia na Suíça. Em Genebra, a feira da ladra era em frente à Universidade e comprei lá as primeiras coisas, até que me tornei antiquário, quanto a presidência da APA foi um caminho normal visto que os corpos gerentes da associação são sempre eleitos por voto secreto. Foram quatro mandatos que exerci como presidente da APA (8 anos) e agora sou presidente da mesa da assembleia.

Sei que faz colecção, qual a peça que mais prazer lhe deu comprar?
Foi uma coisa que acabei por vender mais tarde, eram duas figuras de palácio que estavam no alto de uma escada de um palácio em Verona e talvez tenham sido essas duas peças as que me deram mais gosto ao comprar e de ter.

Das peças que ainda tem, qual a sua preferida?
Gosto muito de um retrato de um francês chamado Le Gabriel Blanche, que eu pus num catálogo de uma exposição de escolhas que se chamava “Escolhas, objectos raros e de colecção” e que tive em casa durante algum tempo e depois de fazer umas alterações trouxe aqui para a loja, mas é uma peça muito importante, um belíssimo quadro assinado do século XVIII.

E qual a peça que gostava de ter e ainda não comprou?
Há tantas …para mim, para a minha colecção pessoal, eventualmente algum quadro, talvez da Paula Rego que jamais comprarei porque não tenho meios para isso.

[Publicado em 05-02-2007 no jornal Noticias da Manha]
http://www.noticiasdamanha.net/

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